Palestra: REFLEXÃO SOBRE AS INTERVENÇÕES DIDÁTICAS NA ALFABETIZAÇÃO INICIAL


Giulianny Russo

Nos dias 02, 03 e 04 de dezembro o ICEP - INSTITUTO CHAPADA realizou o Seminário Interterritorial, que teve como tema “Colaboração intermunicipal e territorial: fortalecimento da formação profissional e suas práticas pedagógicas”.

A programação contou com 04 palestras online e Mesas de Socialização de Experiências, envolvendo formadoras/es e profissionais das redes parceiras. No segundo dia do evento, Claudia Molinari[1] e Giovana Zen[2], com a mediação de Cláudia da Hora, encaminharam a palestra “REFLEXÃO SOBRE AS INTERVENÇÕES DIDÁTICAS NA ALFABETIZAÇÃO INICIAL”, e trouxeram reflexões importantes para pensarmos o processo de alfabetização.

Giovana Zen apresentou uma importante problematização sobre as concepções de alfabetização que podemos encontrar no Brasil, atualmente. Falou sobre a necessidade urgente de discutirmos não somente a aprendizagem, mas também o ensino, bem como a coerência entre os objetivos educacionais declarados e as estratégias didáticas utilizadas para alcançá-los.

Pontuou também que a abordagem construtivista aqui no Brasil foi compreendida de formas muito diversas, impactando fortemente as práticas de ensino que encontramos nas salas de aula: não é difícil encontrar profissionais da Educação que defendem uma perspectiva sócio cultural do processo de alfabetização e que as crianças são sujeitos intelectualmente ativos, mas que em suas propostas de ensino apresentam um caminho totalmente antagônico.

Giovana apontou o paradoxo entre aspirar que as crianças se alfabetizem para poderem participar ativamente das práticas sociais de uso da língua, ou seja, para poderem fazer parte da cultura letrada, sendo capazes de ler e compreender textos e subtextos, explícitos e implícitos, declarados ou ocultos, bem como poderem se comunicar e se expressar por escrito e promover práticas de ensino que não considerem suas reflexões, suas formulações.

Fragmentar a língua escrita com o objetivo de simplificá-la, além de ser questionável (para quem é mais simples trabalhar com fonemas?), parte da premissa da incapacidade da criança em lidar com ela em toda sua complexidade, sem considerar, no entanto, que a criança está em contato fora da escola com a escrita tal como ela existe socialmente.

Giovana analisou ainda dois exemplos para ilustrar o ponto que defende: o “bingo dos sons iniciais”, proposto pelo PNAIC, que consiste na tentativa de recriar o contexto lúdico do jogo de bingo para propor a análise sonora das palavras com inícios coincidentes; e o “procedimento das casinhas”, proposto pelo projeto Alfaletrar, de Magda Soares, que consiste na tentativa de disfarçar os antigos silabários: de um texto extrai palavras, estas são divididas em sílabas (marcadas por palmas e depois grafadas), listam palavras que começam com a mesma sílaba e depois esta sílaba compõem uma lista (escrita dentro de uma casinha, colocada no mural da sala). Em ambas as propostas é marcado o desrespeito à inteligência das crianças: dar uma cara de jogo, para disfarçar uma atividade maçante, na qual de outra forma é difícil a criança observar sentido, já que ao fragmentar a língua escrita em pequenas unidades de análise, a descaracteriza e a torna irreconhecível, pois não existe socialmente; apresenta-se um texto, para parecer que está se trabalhando com práticas reais e disfarçar o ensino da sílaba. Diferente do que propõe a perspectiva psicogenética, o “texto” ou a “palavra” não aparecem como parte de uma prática social de leitura, mas como um “pretexto” para se chegar no ensino da sílaba.

Já na segunda parte do encontro, Claudia Molinari discutiu a abordagem com a qual muitos educadores e pesquisadores trabalham e defendem a tantos anos: a psicogenética. Apresentou algumas estratégias para exemplificar um trabalho didático coerente com a formação de um cidadão atuante no mundo letrado. Situações em que as crianças são convidadas a refletir, formular hipóteses para responder aos desafios que enfrenta ao terem que ler e escrever, ao atuarem com a língua escrita tal como existe fora da escola, mediadas pelas intervenções precisas de seu professor.





Confiram a palestra para verem com maiores detalhes e profundidade os aspectos aqui apontados. Também compartilhem para que mais pessoas se somem a esta discussão!



[1] Claudia Molinari – profa de ciências da educação na UNLP, mestre em ciências com especialidade em pesquisa educacional na cidade do México, profa de graduação e pós graduação, diretora de projetos de extensão e pesquisa da faculdade de ciências humanas e da Educação da UNLP. Especializou-se em temas relacionados com a construção do sistema de escrita, de crianças, na perspectiva psicogenética (didática da leitura e da escrita, e formação de professores). Coordenou cursos de pós graduação e seminários em programas nacionais e regionais na Argentina e no México. É assessora do ICEP desde 2010.

[2] Giovana Cristina Zen – formada em pedagogia e psicopedagogia com mestrado em Educação pela UNEB e doutorado em Educação pela UFBA, professora do programa de pós graduação em Educação e do mestrado profissional em Educação (ambos da UFBA), integra o grupo de pesquisa em formação de professores (FEP) e o grupo de estudos e pesquisas em educação, didática e ludicidade (GEPEL).

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