Educação: uma terra de todo mundo ou uma terra de ninguém?

Giulianny Russo

Nos últimos tempos um verdadeiro tsunami de opiniões, saberes e verdades tem invadido o campo da Educação, sobretudo, mas não exclusivamente, o da educação escolar.
Como Educadoras, acreditamos no debate e defendemos a pluralidade de opiniões e visões sobre um mesmo assunto. No entanto, o que nos tem chamado negativamente a atenção é o “discurso único”, com pouca possibilidade de relativização, com pouca abertura para o diálogo e uma construção coletiva, conjunta e, portanto, plural, de assuntos que são tão caros para o nosso desenvolvimento enquanto sociedade.
É bastante comum encontrarmos a ideia de que, quem parte de pressupostos diferentes ao sustentado pelo governo atual, está contra o país, ou torcendo para que dê errado. No entanto, nossas premissas de vida nos levam a considerar exatamente o oposto: medidas que não considerem e não deem espaço a pluralidade de opiniões, serão consequentemente autoritárias e tiranas – o que levará a desacordos e resistências. Neste sentido, o que fará “não dar certo” não é o questionamento, mas sim a estratégia de não ouvir vozes dissonantes. E sabemos que cada voz parte de ideais, de conceitos, de concepções, de experiências diferentes, que são/foram construídos sobre alicerces diferentes - e que bom que isso é possível!  - porém, é preciso respeitá-los e, em caso de crítica, conhecer… estudar… Não devemos criticar de forma negativa o que desconhecemos.
Sempre soubemos que Educação é “uma terra de todo mundo” (e, como tudo, o que é de todos acaba sendo de ninguém), no sentido de que todos têm uma opinião sobre. Natural, pois a grande maioria passou por algum processo de escolarização. No pensamento científico, essas opiniões recebem um status de saber, um saber pautado na experiência pessoal, individual, no que é chamado de senso-comum. Ainda que legítimo, é um saber que tem uma visão única e, portanto, parcial de um evento, não considerando uma perspectiva histórica e social. Por esta razão, não é generalizável.
Como “todo mundo sabe” sobre Educação, o discurso embasado em pesquisas, estudos e reflexão sobre a prática, ou seja, o discurso oriundo dos especialistas da Educação, acaba profundamente desvalorizado, uma vez que diluído ao status “opiniático”.
A assimetria natural e esperada entre os saberes dos profissionais da Educação e aqueles que não são do campo, acaba sendo vista como uma mera divergência de opiniões, ou ainda, cada vez mais comum, pessoas totalmente leigas e distantes sobre os assuntos educacionais, deslegitimam totalmente opiniões que, a princípio, não concorda – mesmo antes de ouvi-las.
Embora revoltante, para nós que dedicamos nossas vidas a estudar a Educação, este cenário remonta ao próprio início da Pedagogia – área originalmente formada a partir de saberes de outras áreas e não por um saber que é próprio (quantos são, nos cursos de Pedagogia, os professores que são pedagogos de formação? Ou mais bem encontramos psicólogos, sociólogos, filósofos, matemáticos, etc.?)
Também está em consonância à nossa tão famosa desvalorização profissional, pois se todos sabem sobre Educação, o que de especial tem um professor para ser dessa forma valorizado?
É neste sentido que nos mobilizamos, mediante todas as nossas demandas familiares, profissionais e de formação, no desejo de veicular e problematizar opiniões sobre diferentes temas educacionais, compartilhando com aqueles que se interessam, nossas reflexões enquanto profissionais da Educação e que normalmente acontecem somente nos bastidores.



Neste blog, compartilharemos reflexões de nossa autoria, reflexões de colegas e de professores referência na área, bem como citações e outros materiais que, em nossa avaliação, trazem elementos para aprofundar a reflexão sobre a educação escolar.

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