Crédito foto: Aline Leão |
Giulianny Russo
Há muito tempo problematizamos (nós e
diversos professores e estudiosos da área) a escola e seus arraigados formatos
de funcionamento: como ao longo de tantos séculos de existência a escola mantém
a mesma estrutura canônica? Seriação, lista de conteúdos distantes dos
interesses infantis, avaliações, cadeiras enfileiradas, aula expositiva, lição
de casa etc. São muitos aspectos e, entre eles, iremos destacar neste
artigo “apenas” sobre a seriação e os conteúdos.
Uma das memórias que vem à nossa cabeça
quando pensamos em escola certamente é a da seriação: 1º A, 2º B, 3º C, 4º B… e
por aí vai. A ideia de distribuir as crianças em séries, de acordo com a faixa
etária é quase sinônimo de escola, como se escola fosse o coletivo das
diferentes séries. Isso, porque a seriação esteve presente desde o surgimento
dos primeiros grupos escolares1 no Brasil, em 1890. Ou seja, há 129 anos
(considerando somente no nosso país), esta foi a única forma de organização das
crianças no ambiente escolar.
No entanto, vem a pergunta: por que as
crianças precisam ficar agrupadas ao longo de toda a vida escolar (cerca de 15
anos) seguindo somente o critério etário? A melhor opção para o desenvolvimento
das aprendizagens, da curiosidade e motivação é estar sempre com pares da mesma
idade? Todas as crianças do mesmo grupo etário se interessam sempre pelas
mesmas coisas?
Crédito foto: Aline Leão |
Parece óbvio que não e parece simples
mudar isso: basta propor novos agrupamentos de acordo com o interesse, de
acordo com as competências, de acordo com as parcerias, enfim, de acordo com os
diferentes propósitos didáticos. Ainda que algumas experiências neste sentido
venham sendo exploradas, não é algo comum e, frequentemente, estas ocorrem no
contexto do grupo-classe, ou seja, somente entre o mesmo grupo etário.
Iniciativas como esta não são simples,
demandam dedicar tempo e um bom manejo didático do professor, porque trabalhar
com propostas diversificadas implica em: conhecer bem o aluno e suas
possibilidades – o que provêm da observação, reflexão e registro; produzir,
para um mesmo momento, três ou mais tipos de atividades; coordenar a sala como
um todo, sendo que cada subgrupo desenvolve um tipo de trabalho específico; por
vezes, atuar mais proximamente a um grupo definido, segundo os objetivos da
atividade, mas sem perder de vista o restante do grupo, com atenção para que
todos estejam envolvidos no que se está realizando.
Contudo, quem está na escola bem sabe que além dos aspectos relacionados ao fazer do professor, encontramos barreiras institucionais para o trabalho diversificado, como a presença de um currículo fechado e conteudista, com poucas aberturas para que o professor crie a partir das demandas de seu grupo e muito menos a partir de demandas específicas de cada aluno, pois todo o tempo didático está tomado para dar conta de todo conteúdo que foi previamente e “estrangeiramente” estabelecido – estrangeiro enquanto definido por pessoas externas ao “setting-educacional”2.
Contudo, quem está na escola bem sabe que além dos aspectos relacionados ao fazer do professor, encontramos barreiras institucionais para o trabalho diversificado, como a presença de um currículo fechado e conteudista, com poucas aberturas para que o professor crie a partir das demandas de seu grupo e muito menos a partir de demandas específicas de cada aluno, pois todo o tempo didático está tomado para dar conta de todo conteúdo que foi previamente e “estrangeiramente” estabelecido – estrangeiro enquanto definido por pessoas externas ao “setting-educacional”2.
Estas duas condições (seriação e
conteúdo excessivo e fechado) parecem fadar a instituição escolar ao fracasso.
Precisamos urgentemente reinventar a escola.
Notas de rodapé:
1. Até então existiam classes, oferecidas nas casas dos professores ou
em outros espaços da comunidade, nas fazendas e igrejas e, dentro dessa classe
única, os alunos eram agrupados segundo o nível de conhecimento. (Aguiar, 2009)
2. Tomando emprestado o termo da psicanálise “setting terapêutico” para
definir o ambiente, a atmosfera criada na sala do terapeuta que favorece o
estabelecimento da relação terapêutica.
Referências bibliograficas:
AGUIAR, Suelena de Moraes. Organização
Escolar em Ciclos de Formação e Desenvolvimento Humano como Fator de Inclusão
Educacional em Goiânia. Goiânia, 2009. (Dissertação de Mestrado em Educação)-
Universidade Católica de Goiás.
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