Credito da foto: Aline Leão
Adrianna Nunez
Se a
aprendizagem escolar construtivista é considerada um processo ativo de
interação entre aluno e o objeto de conhecimento, e se para obter os avanços
necessários nesta construção o aluno precisa modificar, enriquecer e
diversificar seus esquemas de conhecimento através do sentido que atribui aos
conteúdos ensinados, o professor é o principal responsável por este ensino na
medida em que é ele quem oferecerá a ajuda necessária para tais avanços, é ele
quem irá orientar a reflexão das crianças.
[...]
o ensino, deve ser entendido, necessariamente, na concepção construtivista,
como uma ajuda ao processo de aprendizagem. Ajuda necessária, porque sem ela é
altamente improvável que os alunos cheguem a aprender, e a aprender da maneira
mais significativa possível, os conhecimentos necessários ao seu
desenvolvimento pessoal e à sua capacidade de compreensão da realidade e de
atuação nela, que a escola tem a responsabilidade social de transmitir. Mas
apenas ajuda, porque o ensino não pode substituir a atividade mental
construtiva do aluno nem ocupar o seu lugar. (Coll, 2009, p. 123-124).
Para
oferecer esta ajuda o professor precisa não só saber quais os conhecimentos seus
alunos têm a respeito de determinado saber, como também promover situações de
aprendizagem em que os desafios estejam ajustados ao que o aluno já sabe e
aquilo que irá aprender.
É
neste ponto que o professor deverá atuar para promover avanços, que só
acontecerão se os desafios propostos estiverem equilibrados, ou seja, se os
desafios estiverem localizados entre o que é possível (um desafio que consiga
estabelecer relação com aquilo que a criança já sabe) e o que é impossível de
ser realizado (aquilo que a criança ainda não é capaz de realizar sozinha). O
equilíbrio entre estes dois pontos é um dos aspectos que fazem uma atividade
não se tornar desmotivadora ou inalcançável pelas crianças. Este conceito, que
denominamos ZDP (zona de desenvolvimento proximal), foi criado por Vigotski e, segundo
o autor, corresponde à distância entre o
nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução
independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado
através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração
com companheiros mais capazes [1].
Tal distância define aquelas funções que
ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que
amadurecerão, mas que estão presentes em estado embrionário [2],
e é nessa zona que o professor deverá atuar para fornecer a ajuda necessária
para que seus alunos avancem.
Enquanto
estão operando no nível de desenvolvimento real, as crianças conseguem realizar
tarefas sem nenhum tipo de ajuda, já que lidam com os esquemas que já possuem
sem precisar fazer nenhum tipo de esforço cognitivo, uma vez que não há
desafio. Já, se operam no nível de desenvolvimento potencial, precisam de ajuda
dos colegas ou mesmo do professor para realizar as tarefas, pois não contam com
os esquemas necessários para sua resolução - os desafios propostos estão além
das suas possibilidades de resolução. Portanto, se o professor deseja que as
crianças avancem, que conheçam algo novo, e que para isso estabeleçam relações
com os conhecimentos e esquemas que possuem, é necessário dosar o desafio,
promover situações didáticas que estejam entre o que é fácil e o que é difícil,
nas quais possam contar com o professor ou com os colegas, mas que ao mesmo
tempo tenham também meios de solucionar tais desafios.
Se
a ajuda oferecida não estiver conectada de alguma forma aos esquemas de
conhecimento do aluno, se não for capaz de mobilizá-los e ativá-los e, ao mesmo
tempo, forçar sua reestruturação, não estará cumprindo efetivamente sua missão.
(Onrubia, 2009, p.125).
Ao
promover esta ajuda necessária, aproximando os esquemas que as crianças já
construíram, do conhecimento que é novo (e que por isso não possuem ainda os
esquemas necessários para compreendê-lo), o professor cria a zona de
desenvolvimento proximal e é neste ponto que deverá intervir. E intervir para
ajudar, para orientar a reflexão, o que é muito diferente de fazer pelo sujeito
ou de controlar o ato de pensar das crianças. O professor precisa
fundamentalmente criar em sala de aula um espaço de reflexão, um espaço que
deve ser diariamente construído pelos sujeitos envolvidos.
________________________________
[1] Vigotski, 2007, p.97
[2] Vigotski, 2007. p.98
Bibliografia de referência:
ONRUBIA, Javier. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. In: COLL, César. et al. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 2009.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
COLL, Cesar; SOLÉ, Isabel. Os professores e a concepção construtivista. In: COLL, César (et al). O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 2009.
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