Em nosso último post,
"O
ensino da leitura e da escrita e as pesquisas psicogenéticas",
comentamos que, após a publicação da Psicogênese da Língua Escrita (de
Emilia Ferreiro e Ana Teberosky), houve um importante deslocamento que
alterou o modo de pensar o processo da alfabetização: alterou-se as reflexões
sobre quem ensina para quem aprende.
As autoras
em questão divulgaram o resultado de uma pesquisa essencial à prática da
alfabetização numa perspectiva construtivista, porém em nenhum momento
apontaram maneiras de levar o resultado desta descoberta para a sala de aula, a
ponto de mostrar à escola e aos professores como deveriam e devem ensinar (é
importante destacar que o foco da investigação não era esse!). Logo,
pensar o que, como e quando ensinar, são questões complexas cujas
respostas são dadas pela didática - é esta a ciência que vai pensar as relações
entre o ensino e a aprendizagem e "desenhar" propostas coerentes.
Entretanto, sabemos que o movimento para tal compreensão gerou e ainda gera
algumas deformações, ideias ou julgamentos errôneos.
No livro "A
aprendizagem da língua escrita na escola", especialmente no capítulo 2, as
autoras Delia Lerner e Alicia Palacios, elencam e tratam de "Alguns
mal-entendidos sobre a proposta pedagógica", que ajudam os educadores a se
aproximarem da sua verdadeira intenção.
Abaixo listamos algumas
frases que as autoras destacaram e que representam alguns dos mal-entendidos
que são discutidos e ampliados ao longo do capítulo:
- Se a criança
está no centro do processo, então que faz o professor? Limita-se a deixar
que as crianças atuem espontaneamente, que escolham e desenvolvam as
atividades que lhes interessem?
- Esta proposta
é muito boa para trabalhar com grupos de 15 a 20 alunos, mas não pode
ser aplicada quando se tem 40 alunos em sala de aula, porque então
torna-se impossível seguir o processo de cada um.
- E se esta
experiência apresenta bons resultados, vamos todos ter que trabalhar desse
modo?
- Eu já não posso
trabalhar nas outras áreas como fazia antes. Posso planejar para outros
campos do conhecimento atividades parecidas às que fazemos em língua?
- Eu sei que não
tenho que lhes dar informações, mas, em algumas situações, parece-me muito
forçado não fazê-lo... às vezes lhes digo algo diretamente... estará
errado?
- Mesmo com as
modificações que fizemos na ação pedagógica, há algumas crianças que não
avançam... Será que essas crianças têm dificuldades para a aprendizagem?
- Eu adotarei
deste método o que me pareça útil e continuarei propondo às crianças
outros exercícios que sempre deram resultados.
Indicamos não somente a leitura deste capítulo, como a de todo o livro!
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