Praça do Reescritas: Reflexões após Bate-papo com a Débora Vaz

 

"Praça de encontros" é um novo setor no nosso blog onde compartilharemos as reflexões feitas pelos seguidores do Reescritas  mobilizadas pelos 'Bate-papos', pela 'Una Charla'  ou pelos artigos e outros materiais publicado. 

Hoje a reflexão foi enviada por Janete Cardone, confiram:

Reflexões a partir do Bate-papo com Débora Vaz sobre “A escola real, possível e a necessária”

Crédito da Foto: Aline Leão


“Viver é muito perigoso...”

João Guimarães Rosa

 

No final do Bate-papo “A escola real, possível e a necessária” as meninas do Reescritas fizeram um convite: compartilhar com o grupo um aspecto que o contexto da pandemia transformou em nossas práticas e/ou em nossas reflexões.

Neste momento, de tamanha ruptura no modo familiar de se fazer escola, o que mais tenho sentido necessidade são estes momentos de trocas e partilhas “uma comunidade de educadores que se reúne para pensar”[1]. O principal impacto da pandemia em minhas práticas e reflexões se refere à percepção da importância do encontro e da conversa com outros professores e educadores.

Cinco meses se passaram desde o meu ‘até amanhã’ para meus alunos. Tivemos um dia muito agradável e estávamos nos preparando para a abertura do nosso ‘projeto da ciranda de livros’. Quando, à noite, recebemos a notícia de que não poderíamos voltar para a escola e que deveríamos manter o distanciamento social. Foi tudo muito rápido e não tivemos a oportunidade de nos despedir das pessoas que tanto gostamos... o medo tomou conta dos nossos corações e eu, senti muita insegurança. O que deveria fazer? E minha rotina? Meus alunos? Minha família? Não tinha respostas para essas e outras questões que surgiram.

Esses desafios impostos me mobilizaram à uma ressignificação das minhas ações pedagógicas e iniciei um processo de reinvenção da minha própria prática: foi necessário aprender ferramentas novas para elaboração de aulas dinâmicas, gravar vídeos e podcasts sobre leitura, organizar um espaço na minha casa... incluindo a internet mais potente para não “cair” durante os momentos síncronos... Ah, e por falar em encontro síncrono, o primeiro encontro, nunca irei esquecer! Foi emocionante: todas as crianças falando ao mesmo tempo e eu, nossa, eu estava tão feliz em reencontrá-los. Em menos de 15 dias, já estava agendando reunião no Meet com minhas colegas da pós, sozinha!

Também me vi em um movimento de intensas leituras: de ‘textos antigos’ (buscando refletir junto com autores de referência) e de ‘textos novos’ (buscando conhecer o que meus pares e autores de referência tinham pensado sobre o momento), também passei a participar de muitas lives e cursos síncronos, buscando respostas para minhas perguntas, pois, como disse, percebi que poderia construir caminhos para estas respostas no encontro com o outro.

Junto à esta “comunidade de educadores que se reúne para pensar” - que é “praça” de trocas que acontece no blog Reescritas, organizado por Adrianna e Giulianny, profissionais da educação também inquietas, movidas pelo desejo de compreender os diversos discursos sobre as experiências de escolarização, reivindicando o lugar de fala do professor, como um protagonista da sua aprendizagem, pesquisador e reflexivo de sua prática – nos deparamos com as contundentes falas da Débora:

 “(...) boa parte dos problemas que estamos enfrentando, nós (da escola particular) participamos da produção.”

“A escola já estava sendo colocada em pressão antes da pandemia.”

 

De fato, apesar das inúmeras situações a que as escolas estão sendo chamadas a se posicionar neste contexto de pandemia, o que estamos vivendo não é específico deste momento: atendimentos às demandas cada vez mais individualizadas das famílias, princípios didáticos se submetendo às ferramentas tecnológicas, inúmeras prescrições de agentes ‘não escolares’: “estamos vivendo uma crise sobre a importância da escola na sociedade! Que não é de hoje!” E... Como defender a escola, inclusive em tempos de pandemia sem que esta defesa se fundamente em sua função primordial?

Os professores Fernando Almeida e Maria da Graça Moreira, trazidos pela Débora, nos apresentam um conceito de escola como uma agência civilizatória de larga escala e complementa:

“A escola é o primeiro local onde a criança viverá experiências e rotinas organizadas para viver a diversidade fora do núcleo familiar. E com isso é preciso pontuar que vamos à escola para aprender o conhecimento da diversidade e na diversidade, por isso a homogeneização dos processos e dos sujeitos não faz o menor sentido.”

Durante a conversa com a Debora, fica muito claro: precisamos defender a escola. Mas qual é a escola que iremos defender?

“Uma escola que forma para a civilidade, com um compromisso com a formação do conhecimento de gerações, responsável pela capacidade de formar para pensar e pesquisar; um lugar de se aprender a humanizar, um lugar público (a sala de aula é um lugar público), pois o particular na escola se converte em comum por princípio, mesmo as escolas particulares.”

 

Embora seja importante reconhecer as singularidades, os percursos que exigem um tratamento singular, “a escola que defendemos é a escola do coletivo”.

Uma escola que é coletiva, para o coletivo e feita no coletivo, entre todos. Entre todos que iremos construir a defesa da escola, a partir de uma prática reflexiva, mas também embasada e consistente, pautadas nos princípios éticos e políticos sobre os quais se alicerçam a função da escola e do sujeito que se deseja formar.

A resposta e a excelência não estão nos recursos tecnológicos, nos melhores aplicativos, mas sim no conhecimento da didática e do processo de aprendizagem: Como as crianças aprendem? Como constroem suas reflexões? Quais situações favorecem o trabalho? As ferramentas e recursos a serviço das variadas estratégias metodológicas e de uma escuta empática, não o contrário.

São estas as reflexões que pautam (ou deveriam pautar) toda a ação docente, toda a ação escolar com ou sem pandemia. Este momento explicita muitas questões e nos propicia a pensar no quanto a escola precisa avançar e se reinventar, mais que isso, torna urgente a transformação.


 

 



[1] Todas as ideias trazidas pela Débora Vaz neste encontro serão apresentadas ao longo do texto entre duas aspas.

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