Adaptação escolar das 'crianças' grandes

 Giulianny Russo

Créditos da foto: Aline Leão

É comum cuidarmos da Adaptação Escolar e do acolhimento dos e das estudantes no início do ano letivo, na Educação Infantil. Mas e os e as estudantes das outras etapas?  Eles também precisam de acolhimento?

O Reescritas fez esta pergunta para seus seguidores e todos foram unânimes a respeito da importância de pensarmos em como receber e acolher estudantes de todos os segmentos. 

Embora seja esperado que estudantes a partir do 2° ano dos Anos Iniciais sejam mais conhecedores da rotina escolar (a exceção ocorreu no pós pandemia), há sempre casos particulares:

  • Há estudantes novos na escola? Vieram de onde? Como era a escola que frequentavam? Como ajudá-los a conhecerem as rotinas e culturas específicas da nova escola, sem deixar de valorizar seus locais de origem, usando suas referências como ponto de partida e conexão?
  • Há estudantes que vieram de outro período? Por que mudaram? Como era a relação com o grupo? Quais suas preferências, afinidades, gostos... Tem algum professor especialista ou funcionário da escola que seguirá como uma das referências da turma atual? Como ajudá-los a estabelecerem novas parcerias e vínculos com os colegas?
  • Houve novas configurações dos grupos? Por exemplo: os e as estudantes dos 4° anos A e B foram misturados formando novas turmas para o 5° A e B? Como ajudá-los a se constituírem como grupo? 

 Mas, para além destas situações específicas, todos e todas, em geral, estão:

  • Conhecendo uma nova professora, um novo professor, que tem jeitos diferentes de falar, exigências diferentes e com os/as quais não têm nenhuma relação; 
  • Mudaram de ano e têm expectativas sobre como será aquela "série": mais difícil, porque estão maiores? Haverá provas? Menos tempo de brincar? Matérias novas? Mais lição de casa?
  • Passaram um período de corte total com a rotina escolar durante as férias: horários de acordar, comer, dormir, sem horários rígidos, com um coletivo mais restrito e com experiências das mais diversas.
    Fonte: Aline Leão
Muitas vezes, com os e as estudantes "grandes" nos preocupamos em avaliar seus saberes sobre os conteúdos específicos, porque entendemos que esta avaliação inicial nos oferece um quadro das demandas (e potências, claro) do grupo e de cada estudante em particular. Nos dão pistas de onde será necessário investir, iniciar o trabalho e possibilitam o acompanhamento durante o ano sobre os avanços. Igualmente importante é pensar em:
  • Situações para conhecer nossas e nossos estudantes para além das aprendizagens conceituais, mas seus gostos, interesses, parcerias, características, desafios na relação social;
  • Situações para que possam nos conhecer: nossos gostos, interesses, "jeitão", como nos relacionamos com eles;
  • Situações para que conheçam a cultura e a rotina escolar (pensando sobretudo naqueles estudantes novos), a rotina específica da série;
  • Situações para que se conheçam e/ou retomem vínculos de amizade e/ou parceria.
 
Há muitas formas de pensar neste momento de receber os e as estudantes para o novo ano letivo (e que, sinceramente, ajudam muito mais que dar "lembrancinhas"), compartilho com vocês algumas que fui coletando a partir da minha experiência como professora e que recebi de algumas seguidoras/colaboradoras do Reescritas:

"Sento com a professora do ano anterior para entender o perfil (do grupo) e planejo uma semana de adaptação" - R.V.

"Através de momentos lúdicos, interativos, rodas de conversa, passeios pela escola..." - F.B.

"Observando as preferências e habilidades das crianças e usando-as nas propostas" - L.H.

"Primeiro acolhendo e dando segurança aos pais" - L.H.

"Muitas atividades para  grupo se conhecer e se enturmar, invisto muito na formação de grupo nas primeiras semanas. Algo que eles gostam muito é pedir que tragam um objeto de casa, que o/a represente, para apresentar e contar um pouco sobre si mesmo." - V.V.

"Para me apresentar eu levo uma maleta com vários objetos meus e vou me apresentando: meus gostos, uma história pessoal..." - V. V.

"Tem a atividade do barbante. Em roda, sentados no chão, a gente escolhe um tema (uma característica, um gosto, o que espera para o ano etc.). Seguro a ponta do barbante e jogo para uma criança, após ela falar, ela segura um pedaço do barbante e lança o restante para outra criança até todos terem falado" - V.V.
Fonte: https://bityli.com/P5PC8

"Às vezes coloco um (papel) craft em baixo e colocamos em cima dele, no final, esta forma criada pelos barbantes e conversamos sobre a importância do trabalhar em grupo: o que teria acontecido se alguém tivesse soltado?" - V.V.

  • Rodas de conversa sobre temas variados: sobre as escolas/cidades de origem, preferências, o que fizeram nas férias, discutir sobre algum tema (família, meio ambiente, questões culturais/sociais), apresentação sobre os combinados da escola/turma;
  • Rodas de apreciação: de histórias, poemas, notícias, músicas, imagens e conversas sobre o que cada uma despertou de reflexão;
Fonte: Aline Leão
  • Fazer um desenho, pintura, modelagem (massinha ou argila), colagem em duplas e/ou grupo;
  • Fazer um passeio pela escola: (1) estudantes elaboram um roteiro dos locais fundamentais de se conhecer; (2) elaboram um "school tour" - um tour pela escola; (3) prof. ou estudantes organizam um caça ao tesouro;
  • Realizar em duplas ou grupo enquete com os funcionários para descobrirem seus nomes, funções e alguma particularidade (time de futebol, comida favorita, o que gostam de fazer para se divertir, música etc.)
  • Cozinhar junto também é uma
    boa oportunidade de integração.
    Fonte: Aline Leão
    Estudantes mais antigos na escola contam sobre a escola;
  • Encontro com estudantes do ano seguinte para contar curiosidades, características e/ou principais trabalhos da série;
  • Para cada estudante novo no período ou na escola, combinar com o grupo um ou dois estudantes "antigos" para serem os "tutores" ou "cicerones" - que têm como função acompanhá-los nos deslocamentos pela escola, apresentar pessoas e combinados, ser uma referência nos primeiros dias;


  • Jogos e brincadeiras colaborativas - encontramos na internet muitas sugestões:

Fonte: https://bityli.com/vuI4V
Fonte: https://bityli.com/hJRz6












Fonte: https://bityli.com/QfbYg
Passando o bambolê
Fonte: https://bityli.com/wYKzT











Sentar em grupo
Fonte: https://bityli.com/UuWjx

Lembrando que é interessante que as propostas aconteçam em diferentes lugares da escola, não só na sala de aula;
Mesmo que seja esperado que os e as estudantes saibam determinada postura/procedimento que é importante relembrá-los. É natural que se esqueçam e estamos aqui para apoiá-los a irem compreendendo o sentido de cada uma destas regras e não apenas que sigam sem entendê-las.

Uma dica importante para que estes cuidados iniciais não sejam engolidos pela rotina de tarefas é garantir, no momento de produção da rotina semanal/semanário/ planejamento semanal, momentos diários, que podem ir se espaçando com o decorrer do tempo: nas duas primeiras semanas, diariamente; na terceira semana, duas ou três vezes na semana; após a quarta semana, uma ou duas vezes - a frequência vai depender da percepção do professor e da professora sobre necessidade, mas propostas que visam cuidar da interação e integração do grupo devem se manter ao longo de todo o ano escolar. 

Para que atua a partir do 6° ano, combine com os/as professores das demais disciplinas. Em um dia, uma professora faz uma proposta cuidando da integração, no outro dia o professor de outra especialidade, no outro, outro... e depois planejam uma manutenção semanal.

Por fim, é sempre importante estarmos atentos e observarmos os e as estudantes para identificarmos as ajudas que demandam em qualquer tempo do ano e em qualquer área. 

A escola é o lugar em que passam pelo menos 5h por dia, 5 dias na semana, ou seja, uma grande parte (senão a maior) do seu tempo, precisa ser um lugar em que se sintam acolhidos e seguros. Quem consegue aprender algo sofrendo? 

Eles são grandes, sim. Mas são "grandes" de 12, 13, 14, 15, 16 anos...  São "grandes" em processo de engrandecer e, serão tão grandes, quanto pudermos ajudá-los a ser.




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